domingo, 23 de novembro de 2008

Um trabalho especial a terminar...


Especial porque tive a oportunidade de trabalhar e perceber o quanto é essencial este elemento. Despertei para a realidade do mundo, a Água é esgotável, e por isso mesmo, de um ponto de vista ecológico há que poupá-la.

Para que este blog tivesse uma organização equilibrada decidi dividi-lo por três fases, em que na primeira analisei a epopeia de Luís de Camões, Os Lusíadas, na segunda fase escolhi um conto de um autor que temos acompanhado na disciplina de português, na terceira e última fase, pesquisei acerca da simbologia da Água.

Tratando ao pormenor e ainda por terminar, a primeira fase do trabalho foi retirar dos cantos que estudámos, d' Os Lusíadas, todas as palavras que podemos relacionar com a Água.

A segunda fase, mais pessoal, foi a escolha do conto O Apelo da Água, de Italo Calvino. A escolha deste conto baseou-se na minha admiração ao ouvi-lo, já que apesar de nos terem sido lidos muitos outros contos, este é aquele conto que todas as manhãs ao abrir a torneira para fazer passar a Água por todos os mecanismos que o autor nos retratou com tantos pormenores, sempre recordo.

A terceira fase foi um pesquisa sobre a simbologia da Água, em várias vertentes. Pesquisa essa que me ensinou muito sobre outras culturas e sobre outras religiões onde a Água e bastante importante.

Sei que apesar da avaliação terminar aqui, vou continuar a pesquisar sobre outras palavras contextualizadas com a Água n' Os Lusíadas, procurar outros contos que me surpreendam tanto como O Apelo da Água, e outras simbologias que o elemento poderoso chamado Água pode ter.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Simbologia da Água


Água
Verbete extraído do Dicionário de Símbolos, de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, Ed. j. Olympio

As significações simbólicas da água podem reduzir-se a três temas dominantes: fonte de vida, meio de purificação, centro de regenerescência. Esses três temas se encontram nas mais antigas tradições e formam as mais variadas combinações imaginárias - e as mais coerentes também.

As águas, massa indiferenciada, representando a infinidade dos possíveis, contêm todo o virtual, todo o informal, o germe dos germes, todas as promessas de desenvolvimento, mas também todas as ameaças de reabsorção. Mergulhar nas águas, para delas sair sem se dissolver totalmente, salvo por uma morte simbólica, é retornar às origens, carregar-se de novo num imenso reservatório de energia e nele beber uma força nova: fase passageira de regressão e desintegração, condicionando uma fase progressiva de reintegração e regenerescência.

As variações das diferentes culturas sobre os temas essenciais nos ajudarão a melhor apreender e aprofundar, sobre um fundo quase idêntico, as dimensões e os matizes dessa simbologia da água.

Na Ásia, a água é a forma substancial da manifestação, a origem da vida e o elemento da regeneração corporal e espiritual, o símbolo da fertilidade, da pureza, da sabedoria, da graça e da virtude. Fluida, sua tendência é a dissolução; mas, homogênea também, ela é igualmente o símbolo da coesão, da coagulação. Como tal, poderia corresponder à sattva; mas, como escorre para baixo, para o abismo, sua tendência é tamas; como se estende na horizontal, sua tendência é ainda rajas.

Origem e veículo de toda vida: a seiva é água, e em certas alegorias tântricas, a água representa prana, o sopro vital. No plano corporal, e por ser também um Dom do céu, ela é um símbolo universal de fertilidade e fecundidade. A água do céu faz o arrozal, dizem os montanheses do sul do Vietnã, sensíveis, também cumpre dizê-lo à função regeneradora da água, que consideram medicamento e poção de imortalidade.

Da mesma forma, a água é o instrumento da purificação ritual. Do Islã ao Japão, passando pelos ritos dos antigos fu-chuel taoístas (senhores da água benta), sem esquecer a aspersão dos cristãos, a ablução tem papel essencial. Na índia e no Sudeste Asiático, a ablução das estátuas santas - e dos fiéis - (sobretudo no Ano-Bom) é, ao mesmo tempo, purificação e regeneração. A natureza da água leva-a à pureza, escreve Wan-tse. Ela é, ensina Lao-tse, o emblema da suprema Virtude (Tao,cap.8). É, ainda, o símbolo da sabedoria taoísta, porque não tem contestações. É livre e desimpedida, corre segundo o declive do terreno. É a medida, pois que o vinho forte demais deve ser misturado com água, mesmo em se tratando do vinho do conhecimento.

A água, oposta ao fogo, é
yin. Corresponde ao norte, ao frio, ao solstício do inverno, aos rins, à cor negra, ao trigrama K'an, que é o abissal. Mas, de outro modo, a água está ligada ao raio, que é fogo. Ora, se a redução à Água dos alquimistas chineses pode ser muito bem considerada como uma volta ao começo, ao estado embrionário, diz-se também que essa água é fogo, e que as abluções herméticas devem ser entendidas como purificações pelo fogo. Na alquimia interna dos chineses, o banho e a lavagem poderiam bem ser operações de natureza ígnea. O mercúrio alquímico, que é água, é às vezes qualificado como água ígnea.
Observemos, ainda, que a água ritual das iniciações tibetanas é o símbolo de votos, dos compromissos assumidos pelo postulante. A água, como, aliás, todos os símbolos, pode ser encarada em dois planos rigorosamente opostos, embora de nenhum modo irredutíveis, e essa ambivalência se situa em todos os níveis.
A água é fonte de vida e fonte de morte, criadora e destruidora.

Na Bíblia, os poços no deserto, as fontes que se oferecem aos nômades são outros tantos lugares de alegria e encantamento. Junto das fontes e dos poços operam-se os encontros essenciais. Como lugares sagrados, os pontos de água têm papel incomparável. Perto deles, nasce o amor e os casamentos principiam. A marcha dos hebreus e a caminhada de todo homem na sua peregrinação terrena estão intimamente ligadas ao contacto exterior ou interior com a água. Esta se torna, então, um
centro de paz e de luz, oásis. A Palestina é uma terra de torrentes e de fontes. Jerusalém é regada pelas águas tranquilas de Siloé. Os rios são agentes de fertilização de origem divina, as chuvas* e o orvalho trazem consigo a fecundação e manifestam a benevolência divina. Sem água, o nômade seria imediatamente condenado à morte e crestado pelo sol da Palestina. Assim, a água que ele encontra no caminho é comparável ao maná celeste: desalterando-o, ela o alimenta. É por isso que se reza pedindo água, pois é ela objeto de súplica. Que Deus escute o grito do seu servo, que lhe envie os seus aguaceiros, que faça encontrar os poços e as fontes. A hospitalidade exige que se apresente água fresca ao visitante, que seus pés sejam lavados, a fim de assegurar a paz do seu repouso. Todo o Antigo Testamento celebra a magnificência da água. O Novo receberá esse legado e saberá utilizá-lo. É muito natural que os orientais tenham visto, assim, a água, primeiro como um sinal e um símbolo de bênção: pois não é ela que permite a vida?

A água se torna o símbolo da
vida espiritual e do Espírito, oferecidos por Deus e muitas vezes recusados pelos homens. A água viva, a água da vida se apresenta como um símbolo cosmogônico. E porque ela cura, purifica e rejuvenesce, conduz ao eterno.
Segundo Gregório de Nissa, os poços conservam uma água estagnada.
Mas o poço do Esposo é um poço de águas vivas. Ele tem a profundeza da cisterna e a mobilidade do rio, o que não deixa de ter relação com o texto de Lorca citado acima.

A água, possuidora de uma virtude lustral, exercerá ademais um poder soteriológico. A imersão nela é regeneradora, opera um renascimento, no sentido já mencionado, por ser ela, ao mesmo tempo, morte e vida.
A água apaga a história, pois restabelece o ser num estado novo. A imersão é comparável à deposição do Cristo no santo sepulcro: ele ressuscita, depois dessa descida nas entranhas da terra. A água é símbolo de regeneração: a água batismal conduz explicitamente a um novo nascimento , é iniciadora. O pastor de Hermas fala daqueles que
desceram à água mortos e dela subiram vivos. É o simbolismo da água viva, da fonte de juventa. O que tenho em mim, diz Inácio de Teóforo (segundo Calisto), é a água que opera e fala. Sabe-se que a água da fonte de Castália, em Delfos, inspirava a Pítia. A água da vida é a Graça divina. Os cultos são deliberadamente concentrados em torno das nascentes de água. Todo lugar de peregrinação comporta seu olho d'água, sua fonte. A água pode curar em razão das suas virtudes específicas. No curso dos séculos, a Igreja se levantou muitas vezes contra o culto prestado às águas.

A devoção popular considerou sempre o valor sagrado e sacralizante das águas. Mas os desvios pagãos e a volta das superstições constituíam, sempre uma ameaça. A magia espreita o sagrado para pervertê-lo na imaginação dos homens. Se as águas precedem a criação, é evidente que elas continuam presentes para a recriação. Ao homem novo corresponde a aparição de um outro mundo. Em certos casos, e já o dissemos no começo deste verbete, a água pode fazer obra de morte.
As grandes águas anunciam, na Bíblia, as provações. O desencadeamento das águas é o símbolo das grandes calamidades.

Símbolo da dualidade do alto e do baixo: água de chuva – água do mar. A primeira é pura; a segunda, salgada. Símbolo de vida:
pura, ela é criadora e purificadora, amarga, ela produz e maldição. Os rios podem ser correntes benéficas ou dar abrigo a monstros. As águas agitadas significam o mal, a desordem.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

O Apelo da Água de Italo Calvino


Avanço o braço para o duche, pouso a mão no manípulo e movo-o lentamente fazendo-o rodar para a esquerda.
Acabei de acordar, tenho os olhos ainda cheios de sono, mas estou perfeitamente consciente de que o gesto que faço para inaugurar o meu dia é um acto decisivo e solene, que me põe em contacto com a cultura e a natureza ao mesmo tempo, com milénios de civilização humana e com acção das eras geológicas que deram forma ao planeta. O que peço ao duche é em primeiro lugar que confirme como senhor da água, como pertencente à parte da humanidade que herdou dos esforços de gerações a prerrogativa de chamar a si a água como simples rotação de uma torneira, como detentor do privilégio de viver num século e num lugar em que se pode gozar em qualquer momento da mais generosa profusão de águas límpidas. E sei que para que este milagre se repita todos os dias se deve verificar uma série de condições complexas, pelo que a abertura de uma torneira não pode ser um gesto distraído e automático, mas exige uma concentração, uma participação interior.
Eis que o meu apelo a água sobe pelas canalizações, faz pressão nos sifões, levanta e baixa as bóias que regulam o afluxo nas tinas, assim que uma diferença de pressão a atrai ela acorre, propaga o seu apelo através de junções, espalhando-se pela rede dos colectores, despeja e enche os depósitos, preme contra os diques das albufeiras, escorre pelos filtros dos depuradores, avança ao longo de toda a frente das condutas que a transportam para a cidade, depois de tê-la recolhido e acumulado numa fase do seu ciclo sem fim, talvez destilada pelas bocas dos glaciares descendo por íngremes torrentes, talvez aspirada pelas faldas subterrâneas, escorrendo através dos veios da rocha, descida do céu numa densa cortina de neve chuva granizo.
Enquanto com a direita regulo o misturador, estendo a esquerda aberta em concha para lançar a primeira chapada de água para os olhos e acordar definitivamente, e entretanto oiço a grande distancia as ondas transparentes e frias e subtis que afluem para mim por quilómetros e quilómetros de aqueduto através de planícies vales montanhas, oiço as ninfas das fontes que vêm ao meus encontro pelas suas liquidas vias, e daqui a pouco debaixo do duche irão envolver-me com as suas carícias filiformes.
Mas antes que uma gota assome a cada furo da roseta e se prolongue num estilicídio ainda incerto para depois logo todas juntas se incharem numa auréola de jactos vibrantes, tem de se suportara espera de todo um segundo, um segundo de incerteza em que nada me granate que o mundo contenha ainda água e não se tenha transformado num planeta seco e pulverulento como os outros corpos celestes mais próximos, ou pelo menos que haja água bastante para que eu possa recebê-la aqui na concha das minhas mãos, longe como estou de todas as albufeiras ou nascentes, no coração desta fortaleza e cimento e asfalto.
No verão passado abateu-se uma grande seca sobre a Europa do Norte, as imagens no vídeo mostravam grandes extensões de campos de árida crosta gretada, rios antes opulentos que descobriam com embaraço o seu leito em seca, bovinos que raspavam o focinho na lama procurando alívio para a secura, filas de gente com ânforas e bilhas diante uma magra fonte. Assalta-me a preocupação de que a abundância em que chapinhei até hoje seja precária e ilusória, que a água poderia tornar a ser um bem raro, transportado com esforço, lá vem o aguadeiro com o barril a tiracolo que lança o seu pregão para as janelas para que os sequiosos desçam a comprar um copo da sua preciosa mercadoria.
Se agora mesmo uma tentação de orgulho titânico me tinha aflorado ao assenhorar-me das alavancas de comando das canalizações, bastou um instante para me fazer considerar o meu delírio de omnipotência como fátuo e injustificável, e é com trepidação e humildade que espreito a chegada do borbotão que se anuncia pelo cano acima com trémito baixinho. Mas se fosse apenas uma bolha de ar que passa pelas tubagens vazias? Penso no Sahara que inexoravelmente avança todos os anos uns poucos centímetros, vejo no meio da névoa tremular a miragem verdejante de um oásis, penso nas planícies ardidas da Pérsia drenadas por canais subterrâneos para cidades de cúpulas de majolica azul, percorridas por caravanas nómadas que todos os anos descem do Cáspio ao Golfo Pérsico e acampam em negras tendas onde acocorada no chão uma mulher que segura com os dentes um véu de cor berrante deita a água para o chá de um odre de couro.
Levanto os olhos para o duche esperando que daqui a m segundo os borrifos me chovam nas pálpebras semicerradas, libertando o meu olhar ensonado que agora está explorando a roseta de chapa cromada coberta de furinhos orlados de calcário, e eis que nela me surge uma paisagem lunar cravejada de crateras calcinosas, não, são os desertos do Irão que estou a ver do avião, ponteados de pequenas crateras brancas em fila a distâncias regulares, que assinalam a viagem da água nas condutas há três mil anos em funcionamento: o «qanat» que escorrem subterrâneos por pedaços de cinquenta metros e comunicam com a superfície através destes poços a que pode descer um homem, preso por uma corda, para a manutenção da conduta. Eis que também me projecto naquelas crateras escuras, num horizonte virado do avesso desço pelos furos do duche como pelos poços dos «qanat» para a água que corre invisível com amortecido rocegar.
Uma fracção de segundo basta-me para recuperar a noção de cima e de baixo: é de cima que a água vem ter comigo, após um irregular itinerário em subida. Os percursos artificiais da água nas civilizações sedentes escorrem debaixo da terra ou à superfície, ou seja, não se diferenciam muito dos percursos naturais, enquanto em contrapartida o grande luxo das civilizações pródigas de linfa vital é o de fazer a água vencer a força da gravidade, fazê-la subir para depois tornar a cair: e eis que se multiplicam as fontes com jogos de água e repuxos, os aquedutos de altos pilares. Nas arcadas dos aquedutos romanos o imponente trabalho mural serve de apoio à leveza de um borbotão suspenso lá em cima, uma ideia que exprime um paradoxo sublime: a monumentalidade mais maciça e durável ao serviço do que é fluido e passageiro e impalpável e diáfano.
Aplico o ouvido à grade de correntes suspensas que me circunda e domina, à vibração que se prolonga pela floresta das tubagens. Sinto por cima de mim o céu do Aro Romano sulcado pelas canalizações em cima das arcadas em ligeiro declive, e ainda mais acima que as nuvens, que ao desafio com os aquedutos erguem imensas quantidades de água em corrida.
O ponto de chegada do aqueduto é sempre a cidade, a grande esponja feita para absorver e irrigar, Ninive e os seus jardins, ma e as suas terás. Uma cidade transparente escorre continuamente na espessura compacta das pedras e da cal, uma rede de fios de água rodeia os muros e as ruas. As metáforas superficiais definem a cidade como aglomerado de pedra, diamante facetado ou carvão fuliginoso, mas toda a metrópole também pode ser vista como uma grande estrutura líquida, um espaço delimitado por linhas de água verticais e horizontais, uma estratificação de lugares sujeitos a marés e inundações e ressacas, onde o género humano realiza um ideal de vida anfíbia que corresponde à sua vocação profunda.
Ou talvez seja a vocação profunda da água a que a cidades realiza: o subir, o jorrar, o escorrer de baixo para cima. É na dimensão da altura de todas as cidades se reconhecem: uma Manhattan que ergue os seus reservatório no cume dos arranha-céus, uma Toledo que durante séculos teve de tirá-la barril a barril das correntes do Tejo lá em baixo e carregá-los no dorso de mulas ate que, para delicia do melancólico Filipe II, rangendo põe em movimento «el artificio de Juanelo» e transvaza pela ribanceira acima do rio ara o Alcázar, milagre de curta duração, o conteúdo de baldes oscilantes.
E portanto eis-me pronto a receber a água não como algo que me seja devido naturalmente mas como um encontro de amor cuja liberdade e felicidade é proporcional aos obstáculos que teve de superar. Para viver em plena confidência com a água os romanos puseram no centro da sua vida pública as termas; hoje em dia para nós esta confidência é o coração da vida privada, aqui debaixo deste duche cujos regatos tantas vezes vi correr pela tua pele, náiade nereida ondina, e assim ainda te vejo aparecer e desaparecer no abanar dos esguichos, agora que a água jorra obedecendo veloz ao meu apelo.


CALVINO, Italo. O Apelo da Água in A Memória do Mundo. Teorema: Lisboa, 1995.

sábado, 15 de novembro de 2008

Os Lusíadas de Luís de Camões - Consílio dos Deuses no Olimpo

O Consílio dos Deuses, fresco de Luigi Sabatelli

19.
Já no largo Oceano navegavam,
As inquietas ondas apartando;
Os ventos brandamente respiravam,
Das naus as velas côncavas inchando;
Da branca escuma os mares se mostravam
Cobertos, onde as proas vão cortando
As marítimas águas consagradas,
Que o gado de Próteu são cortadas,

21.
Deixam dos Sete Céus o regimento,
Que do poder mais alto lhe foi dado,
Alto Poder, que só co pensamento
Governa o Céu, a Terra e o Mar irado.
Ali se acharam juntos, num momento,
Os que habitam o Arcturo congelado
E os que o autro tem e as partes onde
A Aurora nasce e o claro Sol se esconde.

25.
Já lhe foi (bem o vistes) concedido,

Cum poder tão singelo e tão pequeno,
Tomar ao Mouro forte e guarnecido
Toda a terra que rega o Tejo ameno;
Pois contra o Castelhano tão temido
Sempre alcançou favor do Céu sereno.
Assu que sempre, enfim, com fama e glória,
Teve troféus pendentes da vitória.

28.
Prometido lhe está o Fado eterno,
Cuja alta lei não pode ser quebrada,
Que tenham longos tempos o governo
Do mar que vê do sol a roxa entrada.
Nas águas tem passado o duro Inverno;
A gente vem perdida e trabalhada.
Já parece bem feito que lhe seja
Mostrada a nova terra que deseja.

Os Lusíadas de Luís de Camões - Dedicatória

D. Sebastião, pintura de Cristovão de Morais, 1572

Canto primeiro

15.
E, enquanto eu estes canto, e a vós não posso,
Sublime Rei, que não me atrevo a tanto,
Tomai as rédeas vós do Reino vosso:
Dareis matéria a nunca ouvido canto.
Comecem a sentir o peso grosso
(Que polo mundo todo faça espanto)
De exércitos e feitos singulares
De África as terras e do Oriente os mares.

18.
Mas, enquanto este tempo passa lento
De regerdes os povos o desejam,
Dai vós favor ao novo atrevimento,
Pera que estes meus versos vossos sejam;
E vereis ir cortando o salso argento
Os vossos Argonautas, por que vejam
Que são vistos de vós no mar irado,
E costumai-vos já a ser invocado.

Os Lusíadas de Luís de Camões - Invocação

"A Tágide", escultura de Lagoa Henriques, em homenagem ao
Tejo e a Camões, situada no Montijo, Praça da República,
e inaugurada em 25 de Abril de 2004

Canto Primeiro

4.
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente,
Se sempre, em verso humilde, celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,
Por que de vossas águas Febo ordene
Que não tenham enveja às de Hipocrene.

Os Lusíadas de Luís de Camões - Proposição

Vista de Lisboa numa iluminura do séc. XVI


Canto primeiro

1.
As Armas e os barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram.

3.
Cessem do sábio Grego e Triano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A Água e Os Lusíadas

Apresentação do Trabalho a realizar no Primeiro Período:

A criação deste blog baseia-se na realização de vários trabalhos com a simbologia dos quatro elementos, e com a matéria que decorre no momento da realização do trabalho.

Neste primeiro trabalho, e como no presente momento analisamos, na disciplina de Português, a epopeia de Luís de Camões e o elemento que mais identifiquei com a obra foi a Água, será este mesmo elemento que irei salientar.
Trabalhando neste sentido vou colocando análises pessoais desta e de outras obras onde encontro a simbologia do elemento em estudo.