terça-feira, 28 de abril de 2009

Memorial... Ironia de Saramago...


"Sou razoavelmente irónico, é uma das coisas que me caracteriza, além de ser alto e calvo... No fundo, sou alguém que gostaria de brincar, mas não pode ou não sabe fazê-lo. Isso resolve-se em mim pela ironia. Que é muitas vezes virada contra o próprio ou contra coisas e pessoas que muito quer ou estima. Haveria que estabelecer diferenças entre a troça, o sarcasmo, o humor e a ironia, tudo parentes da mesma família mas, como acontece com as pessoas do mesmo sangue, nem sempre se dão bem. Creio que a troça é o pior de tudo; o sarcasmo, às vezes, é a única solução, enquanto que o humor é uma espécie de gazua e a ironia pode ser um disfarce de qualquer coisa grave, dor ou angústia, mas também pode ser prova ou demonstração de amor. De qualquer modo, tento não sentimentalizar as situações que pareciam estar fadadas para tal."


A força da ironia, in A Capital, Lisboa, 26 de Novembro de 1984

sexta-feira, 24 de abril de 2009

A minha bagagem... A bagagem do Viajante...


Era quase noite fechada quando chegámos à quinta onde ficaríamos para o dia seguinte. Metemos os animais num barracão e comemos o farnel leve, perto de uma janela iluminada, porque não tínhamos querido entrar (ou não nos deixaram?). Enquanto comíamos, veio um criado dizer-nos que poderíamos dormir na cavalariça. Deu-nos duas mantas lobeiras e foi-se embora. Soltaram-se os cães, e nós não tivemos mais remédio que ir dormir. A porta da cavalariça ficaria aberta toda a noite, e assim nos convinha, pois teríamos de sair pela madrugada, muito antes de nascer o sol, para chegarmos a Santarém no principiar da feira.
A nossa cama era um extremo da manjedoura que acompanhava toda a parede do fundo. Os cavalos resfolgavam e davam patadas no chão empedrado, coberto de palha. Deitei-me como num berço, enrolado na manta, respirando o cheiro forte dos cavalos, toda a noite inquietos, ou assim me pareciam nos intervalos do sono. Sentia-me cansado, com os pés moídos. A escuridão era quente e espessa, os cavalos sacudiam as cabeças com força, e o meu tio dormia. Os ruídos da noite passavam por sobre o telhado. Adormeci como um santo: assim minha avó diria se ali estivesse.


José Saramago, A Bagagem do Viajante, p. 24

Promessa feita...


Sentia-se só no meio de tanta gente, desamparada no meio de tanto amparo... Ora veste, ora despe, ora uma, ora outra...
Queria seguir com a tradição, mas algo mais forte a impedia. Como mulher não podia ser de outra maneira, a não ser ela a lutar por isso. Todas as noite, após o esforço e a imobilização a que era obrigada, implorava com toda a sua fé que o milagre se sucedesse.
Já ele na sua visão de homem não pensava sequer nisso, limitava-se a colaborar e depois a exigir que passados nove meses tivesse um herdeiro, macho como ele claro!
Fácil seria falar para quem estava fora dessa história
, imagino pois o constrangimento de alguém tão religioso como ela ao ouvir falar da sua infertilidade. Todo este ambiente não contribuía em nada para o seu relaxamento, mas lá depois de tantas tentativas eis se não uma que resultou.
A felicidade foi geral, um passo enorme... Um filho, um tão desejado herdeiro a caminho do trono...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Era uma vez...


Era uma vez um rei que fez uma promessa de levantar um convento em Mafra.
Era uma vez a gente que construiu esse convento.
Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes.
Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido.
Era uma vez...

Memorial do Convento, José Saramago

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Parabéns Terra...


Hoje é o grande dia...
O dia internacional da Terra...
Terra como planeta? Terra como fonte de energia? Terra como base fundamental? Terra como aconchego de almas impacientes por voarem?
Terra! Como não sei, acho que também não interessa muito... É Terra e ponto de exclamação!


O dia da Terra foi criado em 1970, quando o senador norte-americano Gaylord Nelson convocou o primeiro protesto nacional contra a poluição.
A partir de 1990, outros países também começaram a mobilização. Em 1972 foi celebrada a primeira conferência internacional sobre o meio ambiente: a Conferência de Estocolmo, cujo objectivo foi sensibilizar os líderes mundiais sobre a magnitude dos problemas ambientais e que se instituíssem as políticas necessárias para sua erradicação. A comemoração refere-se à tomada de consciência dos recursos naturais da Terra e à sua manobra, à educação ambiental e à participação como cidadãos ambientalmente conscientes e responsáveis. Surgiu como um movimento universitário e converteu-se num importante acontecimento educativo e informativo. Os grupos ecologistas utilizam-no como ocasião para avaliar os problemas do meio ambiente do planeta: a contaminação do ar, água e solos, a destruição de ecossistemas, centenas de milhares de plantas e espécies animais dizimadas e o esgotamento de recursos não renováveis. Utiliza-se este dia também para insistir em soluções que permitam eliminar os efeitos negativos das actividades humanas. Estas soluções incluem a reciclagem de materiais manufacturados, preservação de recursos naturais como o petróleo e a energia, a proibição de utilizar produtos químicos maliciosos, o fim da destruição de habitats fundamentais como as florestas tropicais e a protecção de espécies ameaçadas. Temos que fazer com que estas preocupações façam parte do nosso dia-a-dia, pois esperar um ano para ver como ficou o planeta é muito tempo. Para salvar a natureza a acção tem que ser imediata e sem trégua.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Memorial do Convento, a nova obra...


Publicado em 1982, o Memorial do Convento, de José Saramago, narra o período de construção de um Convento, em Mafra, em cumprimento de promessa feita pelo rei D. João V.
Numa primeiríssima análise da estrutura externa da obra podemos verificar também as características da autoria da mesma.
Dada a forma específica de pontuação de Saramago, as expressões Barrocas, expressões cultivas e conceptivas, misturadas com a também estrutura Barroca de Padre António Vieira, a imensa presença da ironia, principalmente no que se refere à nobreza implícita na história, dando assim o desprezo à mesma, a famosa crítica social, a enumeração e a descrição crua e naturalista de alguns factos.

A uma tão completa obra não poderia faltar uma tão completa organização de factos que podem ser compreendidos em três grupos distintos, História - factos históricos reais passados no século XVIII no reinado de D. João V; Ficção - o possível mas irreal romance da Blimunda com Baltazar; Fantástico - onde tudo o que acontece é irreal e impossível de acontecer como os poderes da Blimunda.
Tal como na obra anteriormente estudada, Felizmente Há Luar!, o autor refaz uma fábula quando retira certas acções que se passaram durante o reinado de D. João V para a nossa época e torna a história do Memorial do Convento intemporal...

terça-feira, 14 de abril de 2009

Terra, o novo elemento...


O elemento terra é um dos quatro elementos primordiais, para além dos elementos ar, água e fogo.
Opondo-se ao céu, tem a sua simbologia ligada aos princípios passivo e feminino, o tão abordado Yin, e também à criação, dado que em muitas das mitologias antigas existem lendas sobre o dar a vida primordial a partir de um pedaço de terra ou de barro. Tal como a água, a simbologia da terra está ligada à fecundidade, fertilidade, criação e regeneração, como mulher e mãe e, por isso, associada a um carácter doce, firme e permanente.
No Zodíaco, existem três signos que pertencem a este elemento: o Touro, a Virgem e o Capricórnio, que simbolizam sobretudo o materialismo e as sensações, conferindo mais importância ao raciocínio prático do que às considerações teóricas.
Na literatura, na mitologia e na simbologia, a terra é associada ao corpo da mulher e como ela fecundada pelo lavrador quando este a penetra com o arado e lhe lança as sementes.
Para alguns, a terra é a mãe criadora mas também aquela que se alimenta dos mortos, sendo portanto também destruidora. A terra está também ligada ao sagrado e em muitas religiões como a cristã, a judaica ou a muçulmana, as peregrinações a uma Terra Santa ou uma Terra Prometida são rituais de retorno a essa origem primordial e divina. Na América do Sul, algumas tribos de índios voltam à sua terra de origem quando necessitam de renovar as suas energias. Em termos psicológicos e psicanalíticos a terra simboliza o consciente em conflito permanente com os seus desejos e a necessidade de sublimação.
No próximo dia 22 de Abril comemora-se o Dia Internacional da Terra.